Recebi o seguinte texto por e-mail, com o título "Entendendo a crise" (milagre não ter autoria atribuída ao Jabor ou Verissimo). É bem didático apesar de um erro fundamental. Primeiro o texto depois falo do erro.
O seu Biu tem um boteco, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bebuns e quase todos desempregados.
Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito e o aumento da margem de lucro para compensar o risco).
O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível como chequinhos pré-datados, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços como garantia.
Uns zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, *&%$#@, TDA, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer. Ou seja, pegam mais dinheiro no mercado para financiar novos pinguços do seu Biu. Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece, alias nem querem saber ( as tais cadernetas do seu Biu ), mas cujo resultado alimenta o bônus dos zécutivos por bons anos e com seus bons resultados atraem investidores profissionais, fundos de investimentos, fundos de pensão, aposentados, viúvas desamparadas, etc...
Esses derivativos são sendo negociados como se fossem títulos sérios, por gente supostamente séria e especialista em investimento, usando de fortes garantias reais e risco gerenciado com participação de seguradoras sérias, nos mercados de 73 países.
Até que alguém descobre que os bêubo da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o boteco do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifu.
O problema nisso tudo é que o Seu Biu sabe que os bêbados não têm nem terão dinheiro pra pagar, então ele não vende cachaça na caderneta. Só que um grupo de pessoas acha uma injustiça não vender a cachaça para os sem-cachaça só porque eles não tem dinheiro e até criaram uma teoria econômica defendendo que na verdade a venda de cachaça para os sem-dinheiro vai movimentar a economia e faze-la crescer. Organizados eles convencem o governo a criar um bar que venda cachaça na caderneta para os bêbados, já que nenhum dono de bar faria isso. O resto da história fica igual.
Ao contrário de expor a ineficiência inerente ao capitalismo, como acusam alguns oportunistas (ou simplesmente abobados), a crise reafirma os seus princípios, entre os quais um dos mais importantes é a não intervenção do governo na economia. Essa intervenção sempre gera uma distorção.
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